“Se não há igualdade para os pobres,
que não haja paz para os ricos!
Roda a baiana, fala mais alto!
Desce do morro e ocupa o asfalto!”
(Palavra de ordem da comunidade, que
ocupou o asfalto nas manifestações de 11 de julho.)
Nas últimas semanas veio à tona, através da mídia corporativa, a ordem de demolição, por parte da Prefeitura de Florianópolis, de casas que haviam sido construídas em área de preservação permanente, no alto do Morro da Cruz. O déficit habitacional na Grande Florianópolis, a especulação imobiliária e o alto preço dos aluguéis impulsionaram famílias e trabalhadores/as a ocuparem o local, entre a Serrinha e o alto da Caieira do Saco dos Limões. A ocupação teve início há cerca de oito meses.
Aos poucos, foi aumentando o número de famílias a construir suas casas no local. Na tentativa de fugir do aluguel, as famílias fizeram prestações nas madeireiras, adquiriram materiais e passaram a construir as casas em mutirão, uma por uma, que logo eram ocupadas por uma nova família assim que ficavam prontas.
Era mais uma ocupação silenciosa que se desenvolvia no maciço do Morro da Cruz, que há muito aguarda pela construção de moradias populares, como a prometida COHAB que abrigaria 300 famílias no local, com prazo inicial de entrega em 2011, mas cujas obras ainda nem começaram. Desnecessário dizer que esse número é totalmente insuficiente para suprir a demanda. No entanto, a presença do poder público na Ocupação veio de outra forma: a calma foi interrompida pelo som da motosserra que cortava a madeira e derrubava as casas, a mando de um fiscal da Prefeitura e sob o olhar atento da Polícia Militar.
A defesa da natureza não pode servir de desculpa para a expulsão da população pobre de suas casas e da cidade. Toda a ocupação do morro e, inclusive, da maior parte da cidade foi feita à revelia da legislação ambiental. Porém, o peso das leis só cai em cima dos pobres, enquanto os condomínios de luxo continuam a se espalhar pelas áreas de proteção ambiental. As casas populares foram derrubadas sem mandado, sob a alegação falsa de que os imóveis estavam vazios. Ainda por cima, os oficiais alegaram que todas as casas ali seriam derrubadas e as famílias removidas.
“Removidas pra onde?”, se perguntam as/os moradoras/es, já que não há uma política habitacional para população de baixa renda em Florianópolis. O programa Minha Casa Minha Vida em Florianópolis só construiu dois empreendimentos e nenhum deles se destina à faixa de renda mais necessitada, de 0 a 3 salários mínimos. Os dados oficiais calculam o déficit habitacional em pouco mais de 5 mil unidades, mas estão bastante defasados. Considerando as moradias inadequadas, o aumento da população e a demanda que é forçada às periferias das outras cidades da região metropolitana, a Grande Florianópolis apresenta dezenas de milhares na mesma situação.
As famílias entraram em contato com a luta por moradia da grande Florianópolis, junto aos companheiros e companheiras da Ocupação Contestado de São José e outras/os militantes sociais; estão realizando assembleias semanais e indo às ruas. Decidiram se organizar e iniciar um processo de luta pelo direito à moradia que é negado à população pobre. A Prefeitura, que primeiro buscou derrubar as casas sem mandado, agora está buscando um processo legal para retirar as famílias em nome da preservação ambiental. A comunidade está somando forças com outros movimentos e lutadores/as sociais, porque sabe que apenas a luta muda a vida e será preciso resistir. Quando morar é um privilégio, ocupar é um direito!
Lutar, criar, poder popular!
Vídeo com Neninho, morador da Ocupação:
Posted on 23/07/2013 by CABN
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