Campinho de futebol e o Dia do Trabalhador

Posted on 05/05/2018 by

1


Terça-feira, 1º de maio, mais um dia em homenagem àquelas/es que vivem seis, oito, nove, dez, doze horas dentro de locais que você faz e precisa ser o que, na maioria das vezes, não deseja. Também é dia daqueles que buscam, dia após dia, entrar nesse mundo para levar o mínimo de conforto e dignidade à família. É dia dos trabalhadores e trabalhadoras.

Nesta dia, em 2018, novamente realizou-se diferentes eventos para celebrar e relembrar a data. Numa região da cidade havia uma festa de empresa de comunicação. Em outros cantos, diversas pessoas aproveitando o dia para descansar. Na Amorabi, no bairro Itinga, zona sul de Joinville, uma pequena, mas significante parcela da população, aproveitava o dia vivendo o IV Sarau 1º de Maio.

Lá, entre tantas atrações, crianças e adolescentes passaram uma tarde conversando e compartilhando ideias e experiências sobre futebol. O futebol, esporte amado nas periferias do mundo, praticado por jovens em ruas de terra, asfalto, lama, areia, na escola ou em qualquer lugar que se possa ter duas balizas e um objeto redondo para chutar com jeito, com força, como achar melhor.

Futebol, muitas vezes o único lazer e divertimento dos/as de baixo. O que mais alivia a dor da exploração se não ir ao estádio e ver seu time ganhar. Um, dois, três a zero. Um excelente placar e um maravilhoso domingo. Futebol, tão ironizado, ridicularizado e menosprezado pelos “sabidos” da nossa sociedade.

Para os vinte, vinte e cinco jovens que estavam na Amorabi, amar o futebol não é ser ignorante ou alienado. Lá, o futebol não ficou apenas nas quatro linhas brancas que cercam o campo. O esporte e os explorados estão próximos. Sócrates, Reinaldo, Lucarelli. O punho cerrado desses jogadores são os mesmos erguidos pelas crianças durante a peça de teatro apresentadas por elas minutos antes. Os mesmos punhos de quem oferece mão de obra. Punhos erguidos dos/as que enfrentam os de cima.

Depois, é claro, a bola precisava rolar. Rolou. Num gramado que divide o espaço com buracos de terra. Dois times fizeram o espetáculo. Luta do Trentino FC e Futebol do Piraí. Crianças e adolescentes. Meninos e meninas. Brancos e negros. Da cidade urbana e de terras indígenas. Num campo só. Os/as jogadores/as, as faixas e os cartazes passaram pelo corredor humano que criou uma energia que fez os/as atletas arrepiarem a pele e brilharem os olhos.

No campo, o placar, se é que importa, ficou no 2 a 2. Crianças estigmatizadas por serem violentas mostraram harmonia no toque de bola. Os/as indígenas, antes quietos no cantinho da sala, mostraram sua velocidade e emoção ao marcar o golaço da noite. Sobrava felicidade, camisas rodando ao vento, abraços entre companheiros/as de time e euforia na torcida.

Ignorância, alienação, violência e exploração passam longe dos campinhos de todas as cidades do país. Nossas vidas e nossos trabalhos, um dia, serão como o futebol. Simples, artístico, coletivo, democrático, harmônico e livre dos soberbos que o ironizam, menosprezam e exploram-o.

Por Carlos de Oliveira